Comer no Algarve

O Algarve é actualmente a região mais rica do país. Gastronomicamente falando, claro está. Para além de ter a maior densidade de Estrelas Michelin por m2, tem um impressionante conjunto de restaurantes que praticam uma cozinha regional, muito típica, de grande qualidade. Mesmo no segmento de preços mais baixo, não é difícil contactar com produtos muito frescos, numa cozinha honesta que nos enche de prazer.
Com tanto mar à volta, não é de estranhar que a oferta ande pela excelência dos produtos do mar, como não podia deixar de ser. A riqueza do seu pescado é uma bandeira que o Algarve se orgulha, mas também a proximidade com a serra empresta à sua gastronomia pratos mais consistentes, como o Cozido de Couve à Algarvia ou a Galinha Cerejada, só para dar dois exemplos.
O círculo fecha-se com os figos e as amêndoas, dois produtos incontornáveis na cozinha Algarvia e que são peças fundamentais da sua afamada doçaria, onde o Morgado, o D. Rodrigo, ou o Queijo de Figo, são exemplos maiores.
Mas atenção, sendo a região um lugar turístico por excelência, não é difícil sermos apanhados nas famosas "tourist traps", infelizmente ainda uma realidade no Algarve. É para evitar isso que existe esta lista. 



Primo dos Caracóis, Quatrim do Norte, Olhão - 289 702 662
Localizado em plena EN125, no lugar de Quatrim (perguntem), do lado direito para quem circula no sentido Tavira - Olhão a poucos quilómetros da entrada em Olhão.
Casa simples, sem pretensões, mas onde se serve cozinha de muito boa qualidade, tudo à base do petisco. As opções assentam naturalmente nos peixes e mariscos, mas não faltam pratos mais consistentes. Comeu-se biqueirões albardados, enguias fritas, ameijoas à bolhão pato e terminou-se com uma torta de alfarroba com creme de laranja. Tudo muito bom. Carta de vinhos curta, mas com boas referências e a preços muito convidativos (Soalheiro 2011 a 16€, por exemplo). Há copos razoáveis que não costumam estar à vista, é procurar pelos ditos. Em Julho e Agosto atenção, está sempre cheio.
Preço médio, sem vinho, 15€


Praça Velha II - Estrada Nacional 125, nº 72, Estombar, Lagoa - 282 432 736
Típico restaurante de beira de estrada, onde se serve comida caseira, honesta, a preços muito justos. Foi paragem de acaso, pois a referência era O Charneco, mas o facto de às 14:00 horas já não servirem almoços (não precisam de clientes, é o que é) trocou-nos as voltas e fez-nos procurar por alternativas. Em boa hora, porque no Praça Velha comi simplesmente das melhores sardinhas que tenho memória. Não sei se há por ali gente do mar, nem se a casa tem fama pelo peixe, mas as sardinhas e a dourada (ambos pratos do dia) que nos serviram estavam impecáveis. Peixe fresquíssimo, com a carne a brilhar, firme e saborosa. Dizem-me, ao verem-me maravilhado, que o segredo está na temperatura das águas, que em Setembro sobe e confere às sardinhas um porte e um sabor que não atingem noutras fases do ano. Empurrou-se com imperial. No fim, depois do doce da casa e dos cafés, pagou-se por
1 menu diário, 8€.



Restaurante Três Palmeiras - Vale Caranguejo, Tavira - 281 325 840
Mais uma opção na EN125. Parece que foi de propósito mas foi mera casualidade, serviu para provar que se come muito bem ao longo daquela mítica estrada, agora ainda mais atulhada pelo efeito dos preços ofensivos, que senti na pele, da Via do Infante. Como é possível para as pessoas que têm negócios e têm de se deslocar com rapidez?

Bom, voltemos ao essencial. Grelhador majestoso no meio do grande logradouro que acolhe a sala principal desta casa, de onde saem peixes da grelha ininterruptamente  A lista não é fixa, cada dia assa-se o que aparece na lota. Por estes dias calharam umas sardinhas, de novo fantásticas, uns sarguinhos e umas douradas, tudo muito bom. O acompanhamento é só um, igual para todos, umas inesperadas fatias de pão torrado com manteiga e uma massa que me pareceu de tomate e pimentão (com um ligeiro picante), uma travessa de batatas com salada, tudo feito com bons produtos locais. Muito bom. Na sobremesa pergunta-se por fruta e deixam-nos um cesto de vime em cima da mesa para tirarmos à descrição. Casa simples, com serviço simples mas eficiente e com produtos locais de grande qualidade, ou como comer bem no Algarve por menos de 10€. Não é de estranhar que esteja sempre a rebentar pelas costuras. Atenção, à noite ir cedo, senão arriscam-se a bater com o nariz na porta.
Menu diário, 8€.




Chá com Água Salgada, Praia da Manta Rota, Vila Real de Santo António - 281 952 856
Agora uma sugestão num segmento e estilo de cozinha diferente. 
Chegando-se à praia da Manta Rota ninguém fica indiferente aquela estrutura de linhas modernas com uma frente aberta para a praia onde é possível desfrutar de uma boa refeição com o mar e o sol em fundo. É um lugar bonito e moderno e à noite mostra uma faceta mais sofisticada apesar de manter a informalidade.
As opções da carta são muitas e assentam numa cozinha criativa tendo por base as receitas e os produtos locais. Em alternativa há sempre o peixe fresco da região pronto a ir para a brasa.

Do que se comeu destaca-se, nas entradas, um Tártaro de Atum com um agradável travo a pimento que estava bom sem deslumbrar e os Rolinhos de Bacalhau com Espargos e Espuma de Limão com os espargos al dente como mandam as regras a combinarem muito bem com o bacalhau que trazia um sabor fumado a presunto, para uma entrada diferente e mesmo muito boa. Nos principais,  a Tempura de Polvo com Risotto do Mesmo e o Bacalhau Fresco em Cama de Espinafres e Batata a Murro. O prato de polvo é bem conseguido, muito bem apaladado, apesar de ter sido prejudicado pelo ponto passado do risotto e pelo sal a mais na tempura. Já o prato de bacalhau estava uma maravilha, sem nada a apontar. A sobremesa andou por um excelente Tiramisu de Morango com Gengibre e Praline de Nozes, um dos pontos altos da refeição, mesmo muito bom.

Carta de vinhos para o curto mas com todas as regiões nacionais estarem representadas, apesar do Algarve só ter um vinho na carta. Copos e serviço correctos. Ponto alto para o BYOB que foi prontamente aceite e sem custos. Bebeu-se o Louis Drescher Blanc de Blancs Brut Chardonnay, o Quinta das Bageiras Garrafeira 2010 (que desiludiu, mole e sem acidez, má garrafa certamente, pois muito diferente do provado noutras circunstancias) e o Quinta dos Carvalhais Encruzado 2010.

Foi uma boa refeição mas pelo preço talvez se exigisse um pouco mais. Há detalhes nos pratos apresentados que necessitam ser apurados, principalmente naqueles que exigem mais técnica, no entanto é de saudar ofertas como esta, que apresentam uma opção para um jantar mais sofisticado no Algarve sem entrar na linha pornográfica (em preço) das estrelas Michelin. Uma palavra para o serviço de sala, que foi extremamente simpático e profissional. 
Preço médio, sem vinho, 35€








Nota: O Restaurante Noélia e Jerónimo, na marginal de Cabanas, em condições normais estaria nesta lista, mas infelizmente o primeiro dia que lá fomos (sem marcar) não tivemos mesa e no segundo (com ausência de resposta por telefone) deu-se de caras com o aviso do falecimento do Sr Jerónimo na porta. Ficámos tristes. 

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